Nos últimos anos, a presença digital dos médicos cresceu de forma exponencial. Perfis profissionais nas redes sociais passaram a ser tão relevantes quanto consultórios e clínicas. No entanto, essa visibilidade traz riscos: publicidade irregular pode gerar processos ético-disciplinares, ações judiciais, sanções financeiras e até danos reputacionais significativos.
1. Publicidade médica não é “marketing comum” — e sim atividade regulada
Diferentemente de outras profissões liberais, a atividade médica sofre restrições éticas muito específicas, especialmente porque envolve direitos fundamentais como:
- Saúde e vida do paciente
- Dignidade humana
- Confiança na relação médico-paciente
- Vulnerabilidade do consumidor de serviços de saúde
O médico não pode agir como um “influencer” tradicional, pois sua atuação tem forte impacto social e lida com expectativas sensíveis de cura, alívio e bem-estar. Assim, o discurso publicitário precisa ser comedido, técnico e responsável.
2. O que o médico não pode divulgar
Segundo as normativas do CFM, é proibido:
❌ Prometer resultados
Nenhum tratamento tem garantia absoluta — promessas configuram infração ética e publicidade enganosa.
❌ Exibir “antes e depois”
Esse tipo de imagem estimula comparação ilusória, cria falsas expectativas e pode ser interpretado como captação indevida de pacientes.
❌ Divulgar preços, descontos, pacotes ou promoções
A medicina não é atividade comercial. A mercantilização explícita viola princípios éticos fundamentais.
❌ Fazer autopromoção exagerada ou sensacionalista
Expressões como “o melhor”, “o mais moderno”, “o que mais realiza”, “resultados garantidos” são vedadas.
❌ Divulgar técnicas não reconhecidas pelo CFM
Ainda que usadas por alguns profissionais, procedimentos sem respaldo científico podem levar a sindicâncias e penalidades.
3. Cuidados para produzir conteúdo ético e seguro
A orientação central é clara: a publicidade médica deve ser informativa, educativa e socialmente responsável.
✔ Utilize linguagem técnica, acessível e sóbria
Posts devem esclarecer dúvidas e orientar o público, não vender serviços.
✔ Priorize educação em saúde
Fale sobre prevenção, diagnóstico precoce, hábitos saudáveis e cuidados gerais.
✔ Apresente sua formação e qualificação com precisão
Sem exageros, sem títulos que não possui e sem indução ao erro.
✔ Obtenha consentimento explícito antes de usar imagens de pacientes
Mesmo com autorização, avalie se a publicação é realmente ética e necessária.
✔ Evite expor cenas de procedimentos
Imagens invasivas ou chocantes violam padrões éticos e podem gerar repercussão negativa.
4. “Influencers médicos”: riscos ampliados
Aqui está um ponto sensível: médicos com grande visibilidade digital precisam de ainda mais cautela.
Quanto maior o alcance:
- maior a chance de interpretarem o conteúdo como promessa,
- maior o risco de denúncias em conselhos,
- maior a responsabilidade sobre a clareza, veracidade e fundamentação científica.
A linha entre conteúdo educativo e publicidade irregular fica mais tênue quando o profissional tem milhares de seguidores.
5. Responsabilidade ética e jurídica
A publicidade médica irregular pode resultar em:
- Sindicância e processo ético-disciplinar no CRM
- Advertência, censura ou suspensão do exercício profissional
- Ações judiciais por propaganda enganosa ou danos morais
- Impacto reputacional, difícil de reverter
Muitos médicos são denunciados não por má-fé, mas por desconhecimento das regras — o que reforça a necessidade de orientação especializada.
6. Assessoria jurídica preventiva: o que ela evita
Ter apoio jurídico especializado permite:
- Revisar redes sociais, site e material publicitário
- Criar protocolos de comunicação digital
- Ajustar contratos, TCLE, termos de imagem e instrumentos legais
- Capacitar a equipe para evitar práticas irregulares
- Prevenir sindicâncias e oferecer suporte imediato em caso de denúncia
A advocacia preventiva reduz riscos e protege seu nome, seu CRM e sua carreira.
Conclusão: comunicar é poder — mas exige responsabilidade
O médico pode (e deve!) comunicar-se com o público. Porém, deve fazê-lo com ética, técnica e prudência, sempre observando as normas apontadas pelo CFM e as reflexões doutrinárias que reforçam o caráter sensível da relação médico-paciente.
Se você é médico, gestor de clínica ou profissional da saúde e deseja revisar sua publicidade com segurança, ou se já recebeu alguma notificação ou denúncia, estamos à disposição para ajudar.
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